Pois é!
Tem um monte de histórias de pescador, e muitos dizem que é mentira,
mas eu me calo. Quem sou eu para julgar?
Hoje eu sentei para ouvir, e resolvi contar uma delas, do meu amigo
Gegê, que hoje caprichou! Aliás, é um dos grandes, nessa área.
Ele me contou daquele dia, preguiçoso,
nublado, calor e umidade altíssimos, que não dava coragem de fazer nada.
Só de
ouvi-lo falar já dá preguiça. Reagindo, ele decidiu a ir à lagoa defronte o seu
rancho, ao lado do Rio Paraná, pensando em pegar algum lobó, ou trairão.
Trairão
Poderia
vir, talvez, algum jacaré-do-papo-amarelo, e ele pretendia reforçar seu estoque
de proteínas.
Pegou a carretilha grande, com linha reforçada, afinal, em suas
pescarias, os peixes sempre são muito, muito grandes, e, com a nova isca artificial
que ganhara do filho, começou a arremessar e recolher devagar...
Logo de início, bons ataques de traíra. Fisgou uma, duas, três... e
assim ia.
Em um momento ele viu um peixe atacar furiosamente a isca, e esta, escapando
do peixe, foi arremessada longe pelo ar, indo parar...
...bem no focinho do tourinho Nelore (de aproximadamente uma tonelada),
genética de campeões, que o fazendeiro havia comprado por muito dinheiro.
Ocorre que a cerca estava rompida e o animal havia escapado, ninguém
sabia para onde. Poderia ter sido roubado. Corria o risco de ser picado por
alguma serpente, ou comer alguma erva venenosa.
Ao se sentir a pancada no focinho, o bezerrão se assustou, começou a
cavar o chão, soprando bravo, mas meu amigo, que só tinha visto a isca decolar
para fora da lagoa, e não imaginava o que estava fisgado, continuou recolhendo
a linha com a carretilha. Quando esta esticou, o animal sentiu-se fisgado pela
narina. Tentou esboçar reação, mas a dor era tão grande que resolveu vir
caminhando na direção em que era puxado, afim de minorar a dor.
Meu amigo percebeu o que acontecera, e, com todo sangue-frio de
pescador mentiroso, amarrou o bicho na cerca do
rancho, com a própria linha de pesca, e foi avisar o fazendeiro, que, de tão
feliz, deu-lhe uma leitoa, e uma garrafa de cachaça, que o Gegê dispensou,
afinal, já há alguns anos ele não bebe.
Abateu a leitoa, limpou os peixes, salgou a carne, e ficou lá, descansando
de papo pro ar, no restante do tempo.
Velho Pescador