segunda-feira, 23 de julho de 2012

MANIFESTO PELA DEMOCRACIA DOMÉSTICA

Um espectro ronda os lares. Tremei gerontes e plutocratas do lar: a vanguarda romperá nossos grilhões.
Necessito relatar minha experiência, camaradas! Vislumbro a vitória em breve!

                                                                 Família Comunista Feliz

Não me acusem de oportunista, apenas aproveitei do contexto paritário da universidade para trazer a democracia para meu lar.

Convoquei minha mãe e padrasto para uma Assembléia Geral na sala de casa. Expliquei a todos que necessitamos implantar a democracia aqui no nosso lar: as decisões não podem continuar a ser tomadas majoritariamente pela minha mãe, depois pelo meu padrasto (pobre alienado que não consciência do poder que tem), e por último eu.

Note-se que minha opinião quase nunca é levada em conta. E, para piorar, sempre quando minha mãe vai perder, ela produz um dos seus velhos golpes.
Um exemplo nato foi quando deliberamos assistir UFC bem horário da novela dela. Apesar de ganharmos por 2 votos a 1, ela não se deu por vencida e arbitrariamente cortou o UFC do pacote de TV a cabo.

Comecei explicando que essa forma de gestão do lar vigente é ultrapassada. Esses modelos patriarcais - no meu caso matriarcal - não correspondem a uma democracia do modelo de decisões. Remontam a uma ditadura dos mais velhos!

Argumentei que vivemos todos no mesmo lar, temos os mesmos objetivos, apenas os meios se diferenciam, pois são eles os conservadores e eu vanguardista, revolucionário, classista, puro, independente e bonzinho, no entanto — reitero — queremos todos o bem da casa.
Por vivermos no mesmo lar, devemos os três paritariamente tomar as decisões. Ainda ressaltei que não devemos valorizar essa distinção meritocrática, não venham dizer que são eles os mais capacitados por serem mais experientes, mais velhos, mais responsáveis. Nada disso! Só quero democracia, somos todos iguais.
— Mamãe, isso não é argumento que se preze. AN-TI-DE-MO-CRÁ-TI-CA!
Falei por horas a fio e vi nos olhos de mamãe que ela não conseguiria vencer meus argumentos; estava, com certeza, conspirando enquanto me escutava. (As jornadas revolucionárias me ensinaram que bons ouvintes geralmente estão pensando em outra coisa). Já meu padrasto parecia não se importar muito, talvez nem entendesse o que eu brilhantemente estava expondo: tinha mais cara de fome do que qualquer outra coisa!
Por óbvio venci a argumentação. Camaradas, gritar por democracia é uma bela forma de tentar vencer quando não se tem bons argumentos.
Ainda que uma coisa não tenha nada com a outra, grite por democracia. Grite! Ser contra a democracia, atualmente, é mais feio que ser a favor do câncer!
Um silêncio assustador pairava na sala. Minha mãe, que escutava calada, pediu licença, foi em direção ao quarto e disse que voltava em um instante. Meu padrasto aproveitou para ir buscar comida, por isto está tão gordo.
Minha mãe voltou com uma pasta, tirou um boleto de um apartamento que ela comprou recentemente para a gente e me entregou.
O valor é superior a minha mesada e a minha bolsa de estágio somados. Tinha consciência que ela tramava algo.
Ela começou a falar, disse que democracia é um conceito com muitas facetas.
— A mais evidente, infante Tavinho, parece ser a de participação de todos em um processo de decisão. Trata-se de um valor central de nossa sociedade e a eleição de dirigentes é um componente importante desse conceito, mas não é o único. Um dirigente pode ser eleito democraticamente e não se ter democracia.
Assim, mais do que o modo como é escolhido o dirigente, em um lar, democracia tem a ver com decisões colegiadas e com o princípio de que a todo poder deve corresponder uma res-pon-as-bi-li-da-de e vice-versa.
A essa altura, eu já estava bufando. A ninguém deve ser dado o direito de citar o camarada Peter Parker em vão. Ninguém! E ela continuava:
— Democracia tem a ver com poder responsável. Um tirano não tem de responder pelo poder que tem. Desse modo, não é justo que aqueles que têm a responsabilidade de tomar as iniciativas do lar não tenham o poder correspondente na hora de tomar decisões de casa.
Nesse momento ela bradou: “quer decidir? Arque com as responsabilidades de poder decidir. Comece custeando um terço das obrigações, despesas, responsabilidades”. É claro que não quero responsabilidades, quero só poder decidir democraticamente e com isso já me satisfaço. É um fim belo e justo por si, nada além.
Minha mãe e meu padrasto tem que entender que sou diferente deles, temos papéis diferentes na casa. Eles fazem todo o trabalho, mas todos nós devemos gozar dos frutos. “De cada um segundo suas capacidades e a cada um segundo suas necessidades”, já dizia Marx. Sou muito jovem para ter capacidade de dividir as despesas, mas já sinto a necessidade de receber 1/3 dos rendimentos.
Sei que minha permanência nesse lar é passageira, afinal devo me mudar quando casar, mas quero decidir enquanto estiver aqui!
Num momento de fúria revolucionária, rasguei o boleto do apartamento que ela me entregou, busquei meu macbook no meu quarto e me refugiei na cozinha. Tranquei a porta, tratei logo de passar um cadeado na dispensa, desliguei a geladeira, fiz uma barricada na porta de acesso.
"Ninguém come até que a democracia na gestão do lar seja implantada nessa casa!", foi o que pichei na parede da sala.
É claro que eu continuo comendo, não porque sou melhor, mas porque devo conservar minhas energias vanguardistas, afinal preciso me manter forte para liderar essa revolução. Como sou jovem, até mesmo quando erro não é culpa minha, é sempre na busca incessante de acertar.  Sou um inocente nessa sociedade opressora, onde os pais dominam os meios de produção. Até mesmo meus valores não são ainda consolidados, mas são os melhores, é claro. Não é relativismo moral, é a desresponsabilização individual empregada a meu favor.
Camaradas, construí uma estratégia excelente. Na calada da noite forneço cerveja e coxinhas de frango frito ao meu padrasto, aquele morto de fome. Assim pretendo convencê-lo de que a revolução é para nosso bem. Afirmei para ele que caso façamos uma gestão conjunta paritária ele poderá trabalhar menos, assistir mais TV, comer mais, descansar mais.
E vou na mesma balada: chega de contra-partidas nessa casa! Isso é uma família e não uma relação econômica, ora, cadê a solidariedade? Egoísmo é quando as pessoas pensam apenas no bem de si mesmas, em vez de pensarem em mim. Quero minha mesada sem precisar fazer nada, chega de opressão da minha mãe controlar meu rendimento acadêmico. Não importa se ela custeou minha educação, não importa se hoje a sociedade custeia a minha universidade, justamente os mais pobres que não tem acesso ao nível superior público, apesar de pagar por ele. Não devo nada a ninguém. Chega de qualquer controle, quero sair sempre que me der vontade, viajar sempre que me der vontade, fazer o que eu quiser aqui e nada de ser responsabilizado. A responsabilidade vem depois, né? Tudo tem sua hora, companheiros!
Temos um belo horizonte de liberdade a vista, só meu padrasto parece não entender... Tende piedade dos alienados, Senhor, eles não conhecem seus interesses! No entanto, já estou o convencendo a vir ocupar a cozinha comigo. Apesar dele morrer de medo da mamãe, sinto que em breve estará comigo na revolução paritária.
Camaradas, relato aqui minha experiência em curso, preciso do apoio de vocês para manter a revolução. Venham comigo ocupar essa cozinha. Esta é a primeira, a próxima é a da sua casa e assim sucessivamente, por todas as cozinhas da face da terra. Venham logo, esta ocupação aqui não está me deixando ir malhar, freqüentar minhas aulinhas de francês e visitar minha paquera. Preciso logo de um revezamento na ocupação. Pela revolução, camaradas!
Do front de batalha da cozinha do apartamento 513, Edifício Vivenda da Liberdade,
Saudações vanguardistas da fábula do lar.
Hábraços paritários

http://www.vanguardapopular.com.br/portal/comentario-popular/253-manifesto-pela-democracia-domestica

segunda-feira, 16 de julho de 2012

CURIOSIDADE - O que significa @ no e-mail


Durante a Idade Média os livros eram escritos pelos copistas, à mão. Precursores dos taquígrafos, os copistas simplificavam seu trabalho substituindo letras, palavras e nomes próprios por símbolos, sinais e abreviaturas. Não era por economia de esforço nem para o trabalho ser mais rápido (tempo era o que não faltava, naquela época!). O motivo era
de ordem econômica: tinta e papel eram valiosíssimos.

Assim, surgiu o til (~), para substituir o m ou n que nasalizava a vogal anterior. Se reparar bem, você verá que o til é um enezinho sobre a letra.

O nome espanhol Francisco, também grafado Phrancisco, foi abreviado para Phco e Pco – o que explica, em Espanhol, o apelido Paco.

Ao citarem os santos, os copistas os identificavam por algum detalhe significativo de suas vidas. O nome de São José, por exemplo, aparecia seguido de Jesus Christi Pater Putativus, ou seja, o pai putativo (suposto) de Jesus Cristo. Mais tarde, os copistas passaram a adotar a abreviatura JHS PP, e depois simplesmente PP. A pronúncia dessas letras em sequência explica por que José, em Espanhol, tem o apelido de Pepe.

Já para substituir a palavra latina et (e), eles criaram um símbolo que resulta do entrelaçamento dessas duas letras: o &, popularmente conhecido como e comercial, em Português, e, ampersand, em Inglês, junção de and (e, em Inglês), per se (por si, em Latim) e and.

E foi com esse mesmo recurso de entrelaçamento de letras que os copistas criaram o símbolo @, para substituir a preposição latina ad, que tinha, entre outros, o sentido de casa de.

Foram-se os copistas, veio à imprensa - mas os símbolos @ e & continuaram firmes nos livros de contabilidade. O @ aparecia entre o número de unidades da mercadoria e o preço. Por exemplo: o registro contábil 10@£3 significava 10 unidades ao preço de 3 libras cada uma. Nessa época, o símbolo @ significava, em Inglês, at (a ou em).

No século XIX, na Catalunha (nordeste da Espanha), o comércio e a indústria procuravam imitar as práticas comerciais e contábeis dos ingleses. E, como os espanhóis desconheciam o sentido que os ingleses davam ao símbolo @ (a ou em), acharam que o símbolo devia ser uma unidade de peso. Para isso contribuíram duas coincidências:

1 - a unidade de peso comum para os espanhóis na época era a arroba, cujo inicial lembra a forma do símbolo;

2 - os carregamentos desembarcados vinham frequentemente em fardos de uma arroba. Por isso, os espanhóis interpretavam aquele mesmo registro de 10@£3 assim: dez arrobas custando 3 libras cada uma. Então, o símbolo @ passou a ser usado por eles para designar a arroba.

O termo arroba vem da palavra árabe ar-ruba, que significa a quarta parte: uma arroba (15 kg , em números redondos) correspondia a ¼ de outra medida de origem árabe, o quintar, que originou o vocábulo português quintal, medida de peso que equivale a 58,75 kg .

As máquinas de escrever, que começaram a ser comercializadas na sua forma definitiva há dois séculos, mais precisamente em 1874, nos Estados Unidos (Mark Twain foi o primeiro autor a apresentar seus originais datilografados), trouxeram em seu teclado o símbolo @, mantido no de seu sucessor - o computador.

Então, em 1972, ao criar o programa de correio eletrônico (o e-mail), Roy Tomlinson usou o símbolo @ (at), disponível no teclado dessa máquina, entre o nome do usuário e o nome do provedor. E foi assim que Fulano@Provedor X ficou significando Fulano no provedor X.

Na maioria dos idiomas, o símbolo @ recebeu o nome de alguma coisa parecida com sua forma: em Italiano, chiocciola (caracol); em Sueco, snabel (tromba de elefante); em Holandês, apestaart (rabo de macaco). Em alguns, tem o nome de certo doce de forma circular: shtrudel, em iídisch; strudel, em alemão; pretzel, em vários outros idiomas europeus. No nosso, manteve sua denominação original: arroba.

                                                                                 
(recebido por e-mail) 

Vinicius de Moraes



O Mais-que-perfeito

Ah, quem me dera ir-me
Contigo agora
Para um horizonte firme
(Comum, embora...)


Ah, quem me dera ir-me !

Ah, quem me dera amar-te
Sem mais ciúmes
De alguém, em algum lugar
Que não presumes...

Ah, quem me dera amar-te !

Ah, quem me dera ver-te
Sempre ao meu lado
Sem precisar dizer-te
Jamais : cuidado...

Ah, quem me dera ver-te !

Ah, quem me dera ter-te
Como um lugar
Plantado num chão verde
Para eu morar-te


Morar-te até morrer-te...


Vinicius de Moraes

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Sem exageros, uai!


Durante escavações no estado do Rio de Janeiro, arqueólogos fluminenses descobriram, a 100 m de profundidade, vestígios de fios de cobre que datavam do ano 1000 d.C.
Os cientistas cariocas concluíram que seus antepassados já dispunham de uma rede telefônica naquela época.

Os paulistas escavaram também seu subsolo, encontrando vestígios de vidro a 200 m de profundidade. Após minuciosas análises, concluíram que elas tinham 2000 anos de idade.
Os cientistas paulistas declararam, triunfantes, que seus antepassados já dispunham de uma rede digital a base de fibra ótica quando Jesus nasceu!

Uma semana depois, em Belo Horizonte, foi publicado por cientistas mineiros o seguinte estudo:
"Após escavações arqueológicas no subsolo de Contági, Patinga, Timoti, PassQuato, Pós di Carda, Jijifóra, Sansdumôn, Pôso Alegre, Santantoin du Monte, Moncarmelo, Lagoa Dorada, Sanjãodelrei, Beraba, Berlândia, Biá, Belzonte, Bosta do Araguari, Divinópis, Pará de Mins, Furmiga, Vernador Valadars, Tiófi Otoni, Piui, Biraci e diversas outras cidades mineiras, até uma profundidade de 500 metros , não foi encontrado absolutamente nada.
Concluimos então que os antigos mineiros já dispunham há 5000 anos de uma rede de comunicações sem-fio: "wireless".

Nota dos arqueólogos: Por isso se pronuncia "UAI"reless.

Esse trem de ser mineiro é bão dimais da conta, sô!


terça-feira, 10 de julho de 2012

Carta aberta à Presidente Dilma Rousseff

Presidente Dilma Roussef fala
no Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas.
Foto Planalto.gov.br

terça-feira, 12 de junho de 2012

 Carta aberta à Presidente Dilma Rousseff

Mudanças climáticas:
hora de recobrar o bom senso

Exma. Sra.
Dilma Vana Rousseff
Presidente da República Federativa do Brasil

Excelentíssima Senhora Presidente:

Em uma recente reunião do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, a senhora afirmou que a fantasia não tem lugar nas discussões sobre um novo paradigma de crescimento – do qual a humanidade necessita, com urgência, para proporcionar a extensão dos benefícios do conhecimento a todas as sociedades do planeta. Na mesma ocasião, a senhora assinalou que o debate sobre o desenvolvimento sustentado precisa ser pautado pelo direito dos povos ao progresso, com o devido fundamento científico.

Assim sendo, permita-nos complementar tais formulações, destacando o fato de que as discussões sobre o tema central da agenda ambiental, as mudanças climáticas, têm sido pautadas, predominantemente, por motivações ideológicas, políticas, acadêmicas e econômicas restritas. Isto as têm afastado, não apenas dos princípios basilares da prática científica, como também dos interesses maiores das sociedades de todo o mundo, inclusive a brasileira. Por isso, apresentamos-lhe as considerações a seguir.
1) Não há evidências físicas da influência humana no clima global:


A despeito de todo o sensacionalismo a respeito, não existe qualquer evidência física observada no mundo real que permita demonstrar que as mudanças climáticas globais, ocorridas desde a revolução industrial do século XVIII, sejam anômalas em relação às ocorridas anteriormente, no passado histórico e geológico – anomalias que, se ocorressem, caracterizariam a influência humana.

Todos os prognósticos que indicam elevações exageradas das temperaturas e dos níveis do mar, nas décadas vindouras, além de outros efeitos negativos atribuídos ao lançamento de compostos de carbono de origem humana (antropogênicos) na atmosfera, baseiam-se em projeções de modelos matemáticos, que constituem apenas simplificações limitadas do sistema climático – e, portanto, não deveriam ser usados para fundamentar políticas públicas e estratégias de longo alcance e com grandes impactos socioeconômicos de âmbito global.

A influência humana no clima restringe-se às cidades e seus entornos, em situações específicas de calmarias, sendo estes efeitos bastante conhecidos, mas sem influência em escala planetária. Para que a ação humana no clima global ficasse demonstrada, seria preciso que, nos últimos dois séculos, estivessem ocorrendo níveis inusitadamente altos de temperaturas e níveis do mar e, principalmente, que as suas taxas de variação (gradientes) fossem superiores às verificadas anteriormente.

O relatório de 2007 do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) registra que, no período 1850-2000, as temperaturas aumentaram 0,74°C, e que, entre 1870 e 2000, os níveis do mar subiram 0,2 m.

Ora, ao longo do Holoceno, a época geológica correspondente aos últimos 12.000 anos em que a civilização tem existido, houve diversos períodos com temperaturas mais altas que as atuais. No Holoceno Médio, há 5.000-6.000 anos, as temperaturas médias chegaram a ser 2-3°C superiores às atuais, enquanto os níveis do mar atingiam até 3 metros acima do atual. Igualmente, nos períodos quentes conhecidos como Minoano (1500-1200 a.C.), Romano (séc. VI a.C.-V d.C.) e Medieval (séc. X-XIII d.C.), as temperaturas atingiram mais de 1°C acima das atuais.
Quanto às taxas de variação desses indicadores, não se observa qualquer aceleração anormal delas nos últimos dois séculos. Ao contrário, nos últimos 20.000 anos, desde o início do degelo da última glaciação, houve períodos em que as variações de temperaturas e níveis do mar chegaram a ser uma ordem de grandeza mais rápidas que as verificadas desde o século XIX.

Entre 12.900 e 11.600 anos atrás, no período frio denominado Dryas Recente, as temperaturas caíram cerca de 8°C em menos de 50 anos e, ao término dele, voltaram a subir na mesma proporção, em pouco mais de meio século.

Quanto ao nível do mar, ele subiu cerca de 120 metros, entre 18.000 e 6.000 anos atrás, o que equivale a uma taxa média de 1 metro por século, suficiente para impactar visualmente as gerações sucessivas das populações que habitavam as margens continentais. No período entre 14.650 e 14.300 anos atrás, a elevação foi ainda mais rápida, atingindo cerca de 14 metros em apenas 350 anos – equivalente a 4 m por século.

Por conseguinte, as variações observadas no período da industrialização se enquadram, com muita folga, dentro da faixa de oscilações naturais do clima e, portanto, não podem ser atribuídas ao uso dos combustíveis fósseis ou a qualquer outro tipo de atividade vinculada ao desenvolvimento humano.

Tais dados representam apenas uma ínfima fração das evidências proporcionadas por, literalmente, milhares de estudos realizados em todos os continentes, por cientistas de dezenas de países, devidamente publicados na literatura científica internacional. Desafortunadamente, é raro que algum destes estudos ganhe repercussão na mídia, quase sempre mais inclinada à promoção de um alarmismo sensacionalista e desorientador.
2) A hipótese “antropogênica” é um desserviço à ciência:

A boa prática científica pressupõe a busca permanente de uma convergência entre hipóteses e evidências. Como a hipótese do aquecimento global antropogênico (AGA) não se fundamenta em evidências físicas observadas, a insistência na sua preservação representa um grande desserviço à ciência e à sua necessária colocação a serviço do progresso da humanidade.

A história registra numerosos exemplos dos efeitos nefastos do atrelamento da ciência a ideologias e outros interesses restritos. Nos países da antiga URSS, as ciências biológicas e agrícolas ainda se ressentem das consequências do atraso de décadas provocado pela sua subordinação aos ditames e à truculência de Trofim D. Lysenko, apoiado pelo ditador Josef Stálin e seus sucessores imediatos, que rejeitava a genética, mesmo diante dos avanços obtidos por cientistas de todo o mundo, inclusive na própria URSS, por considerá-la uma ciência “burguesa e antirrevolucionária”. O empenho na imposição do AGA, sem as devidas evidências, equivale a uma versão atual do “lysenkoísmo”, que tem custado caro à humanidade, em recursos humanos, técnicos e econômicos desperdiçados com um problema inexistente.

Ademais, ao conferir ao dióxido de carbono (CO2) e outros gases produzidos pelas atividades humanas o papel de principais protagonistas da dinâmica climática, a hipótese do AGA simplifica e distorce um processo extremamente complexo, no qual interagem fatores astrofísicos, atmosféricos, geológicos, geomorfológicos, oceânicos e biológicos, que a ciência apenas começa a entender em sua abrangência.

Um exemplo dos riscos dessa simplificação é a possibilidade real de que o período até a década de 2030 experimente um considerável resfriamento, em vez de aquecimento, devido ao efeito combinado de um período de baixa atividade solar e de uma fase de resfriamento do oceano Pacífico (Oscilação Decadal do Pacífico, ODP), em um cenário semelhante ao verificado entre 1947-1976.

Vale observar que, naquele intervalo, o Brasil experimentou uma redução de 10-30% nas chuvas, o que acarretou problemas de abastecimento de água e geração elétrica, além de um aumento das geadas fortes, que muito contribuíram para erradicar o café no Paraná. Se tais condições se repetirem, o País poderá ter sérios problemas, inclusive, nas áreas de expansão da fronteira agrícola das regiões Centro-Oeste e Norte e na geração hidrelétrica (particularmente, considerando a proliferação de reservatórios “a fio d’água”, impostos pelas restrições ambientais).

A propósito, o decantado limite de 2°C para a elevação das temperaturas, que, supostamente, não poderia ser superado e tem justificado todas as restrições propostas para os combustíveis fósseis, também não tem qualquer base científica: trata-se de uma criação “política” do físico Hans-Joachim Schellnhuber, assessor científico do governo alemão, como admitido por ele próprio, em uma entrevista à revista Der Spiegel (17/10/2010).
3) O alarmismo climático é contraproducente:

O alarmismo que tem caracterizado as discussões sobre as mudanças climáticas é extremamente prejudicial à atitude correta necessária frente a elas, que deve ser orientada pelo bom senso e pelo conceito de resiliência, em lugar de submeter as sociedades a restrições tecnológicas e econômicas absolutamente desnecessárias.

No caso, resiliência significa a flexibilidade das condições físicas de sobrevivência e funcionamento das sociedades, além da capacidade de resposta às emergências, permitindo-lhes reduzir a sua vulnerabilidade às oscilações climáticas e outros fenômenos naturais potencialmente perigosos. Tais requisitos incluem, por exemplo, a redundância de fontes alimentícias (inclusive a disponibilidade de sementes geneticamente modificadas para todas as condições climáticas), capacidade de armazenamento de alimentos, infraestrutura de transportes, energia e comunicações e outros fatores.

Portanto, o caminho mais racional e eficiente para aumentar a resiliência da humanidade, diante das mudanças climáticas inevitáveis, é a elevação geral dos seus níveis de desenvolvimento e progresso aos patamares permitidos pela ciência e pela tecnologia modernas.

Além disso, o alarmismo desvia as atenções das emergências e prioridades reais. Um exemplo é a indisponibilidade de sistemas de saneamento básico para mais da metade da população mundial, cujas consequências constituem, de longe, o principal problema ambiental do planeta. Outro é a falta de acesso à eletricidade, que atinge mais de 1,5 bilhão de pessoas, principalmente, na Ásia, África e América Latina.

No Brasil, sem mencionar o déficit de saneamento, grande parte dos recursos que têm sido alocados a programas vinculados às mudanças climáticas, segundo o enfoque da redução das emissões de carbono, teria uma destinação mais útil à sociedade se fossem empregados na correção de deficiências reais, como: a falta de um satélite meteorológico próprio (de que dispõem países como a China e a Índia); a ampliação e melhor distribuição territorial da rede de estações meteorológicas, inferior aos padrões recomendados pela Organização Meteorológica Mundial, para um território com as dimensões do brasileiro; o aumento do número de radares meteorológicos e a sua interligação aos sistemas de defesa civil; a consolidação de uma base nacional de dados climatológicos, agrupando os dados de todas as estações meteorológicas do País, muitos dos quais sequer foram digitalizados.
4) A “descarbonização” da economia é desnecessária e economicamente deletéria:

Uma vez que as emissões antropogênicas de carbono não provocam impactos verificáveis no clima global, toda a agenda da “descarbonização” da economia, ou “economia de baixo carbono”, se torna desnecessária e contraproducente – sendo, na verdade, uma pseudo-solução para um problema inexistente. A insistência na sua preservação, por força da inércia do status quo, não implicará em qualquer efeito sobre o clima, mas tenderá a aprofundar os seus numerosos impactos negativos.

O principal deles é o encarecimento desnecessário das tarifas de energia e de uma série de atividades econômicas, em razão de: a) os pesados subsídios concedidos à exploração de fontes energéticas de baixa eficiência, como a eólica e solar – ademais, inaptas para a geração elétrica de base (e já em retração na União Europeia, que investiu fortemente nelas); b) a imposição de cotas e taxas vinculadas às emissões de carbono, como fizeram a Austrália, sob grande rejeição popular, e a União Europeia, para viabilizar o seu mercado de créditos de carbono; c) a imposição de medidas de captura e sequestro de carbono (CCS) a várias atividades.

Os principais beneficiários de tais medidas têm sido os fornecedores de equipamentos e serviços de CCS e os participantes dos intrinsecamente inúteis mercados de carbono, que não têm qualquer fundamento econômico real e se sustentam tão somente em uma demanda artificial criada sobre uma necessidade inexistente. Vale acrescentar que tais mercados têm se prestado a toda sorte de atividades fraudulentas, inclusive, no Brasil, onde autoridades federais investigam contratos de carbono ilegais envolvendo tribos indígenas, na Amazônia, e a criação irregular de áreas de proteção ambiental para tais finalidades escusas, no estado de São Paulo.
5) É preciso uma guinada para o futuro:

Pela primeira vez na história, a humanidade detém um acervo de conhecimentos e recursos físicos, técnicos e humanos, para prover a virtual totalidade das necessidades materiais de uma população ainda maior que a atual. Esta perspectiva viabiliza a possibilidade de se universalizar – de uma forma inteiramente sustentável – os níveis gerais de bem-estar usufruídos pelos países mais avançados, em termos de infraestrutura de água, saneamento, energia, transportes, comunicações, serviços de saúde e educação e outras conquistas da vida civilizada moderna. A despeito dos falaciosos argumentos contrários a tal perspectiva, os principais obstáculos à sua concretização, em menos de duas gerações, são mentais e políticos, e não físicos e ambientais.

Para tanto, o alarmismo ambientalista, em geral, e climático, em particular, terá que ser apeado do seu atual pedestal de privilégios imerecidos e substituído por uma estratégia que privilegie os princípios científicos, o bem comum e o bom senso.

A conferência Rio+20 poderá ser uma oportuna plataforma para essa necessária reorientação.
Kenitiro Suguio
Geólogo, Doutor em Geologia
Professor Emérito do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (USP)
Membro titular da Academia Brasileira de Ciências

Luiz Carlos Baldicero Molion
Físico, Doutor em Meteorologia e Pós-doutor em Hidrologia de Florestas
Pesquisador Sênior (aposentado) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE)
Professor Associado da Universidade Federal de Alagoas (UFAL)

Fernando de Mello Gomide
Físico, Professor Titular (aposentado) do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA)
Co-autor do livro Philosophy of Science: Brief History (Amazon Books, 2010, com Marcelo Samuel Berman)

José Bueno Conti
Geógrafo, Doutor em Geografia Física e Livre-docente em Climatologia
Professor Titular do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo (USP)
Autor do livro Clima e Meio Ambiente (Atual, 2011)

José Carlos Parente de Oliveira
Físico, Doutor em Física e Pós-doutor em Física da Atmosfera
Professor Associado (aposentado) da Universidade Federal do Ceará (UFC)
Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE)

Francisco Arthur Silva Vecchia
Engenheiro de Produção, Mestre em Arquitetura e Doutor em Geografia
Professor Associado do Departamento de Hidráulica e Saneamento da Escola de Engenharia de São Carlos (USP)
Diretor do Centro de Recursos Hídricos e Ecologia Aplicada (CRHEA)

Ricardo Augusto Felicio
Meteorologista, Mestre e Doutor em Climatologia
Professor do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo (USP)

Antonio Jaschke Machado
Meteorologista, Mestre e Doutor em Climatologia
Professor do Departamento de Geografia da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP)

João Wagner Alencar Castro
Geólogo, Mestre em Sedimentologia e Doutor em Geomorfologia
Professor Adjunto do Departamento de Geologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Chefe do Departamento de Geologia e Paleontologia do Museu Nacional/UFRJ

Helena Polivanov
Geóloga, Mestra em Geologia de Engenharia e Doutora em Geologia de Engenharia e Ambiental
Professora Associada do Departamento de Geologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

Gustavo Macedo de Mello Baptista
Geógrafo, Mestre em Tecnologia Ambiental e Recursos Hídricos e Doutor em Geologia
Professor Adjunto do Instituto de Geociências da Universidade de Brasília (UnB)
Autor do livro Aquecimento Global: ciência ou religião? (Hinterlândia, 2009)

Paulo Cesar Soares
Geólogo, Doutor em Ciências e Livre-docente em Estratigrafia
Professor Titular da Universidade Federal do Paraná (UFPR)

Gildo Magalhães dos Santos Filho
Engenheiro Eletrônico, Doutor em História Social e Livre-docente em História da Ciência e Tecnologia
Professor Associado do Departamento de História da Universidade de São Paulo (USP)

Paulo Cesar Martins Pereira de Azevedo Branco
Geólogo, Pesquisador em Geociências (B-Sênior) do Serviço Geológico do Brasil – CPRM
Especialista em Geoprocessamento e Modelagem Espacial de Dados em Geociências

Daniela de Souza Onça
Geógrafa, Mestra e Doutora em Climatologia
Professora da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC)

Marcos José de Oliveira
Engenheiro Ambiental, Mestre em Engenharia Ambiental e Climatologia Aplicada
Doutorando em Geociências Aplicadas na Universidade de Brasília (UnB)

Geraldo Luís Saraiva Lino
Geólogo, coeditor do sítio Alerta em Rede
Autor do livro A fraude do aquecimento global: como um fenômeno natural foi convertido numa falsa emergência mundial (Capax Dei, 2009)

Maria Angélica Barreto Ramos
Geóloga, Pesquisadora em Geociências (Senior) do Serviço Geológico d Brasil – CPRM
Mestre em Geociências – Opção Geoquímica Ambiental e Especialista em Geoprocessamento e Modelagem Espacial de Dados em Geociências

 (Fonte: Folha de S. Paulo, 27 de junho de 2012).


Exagerada!

Pois é! Tem um monte de histórias de pescador, e muitos dizem que é mentira, mas eu me calo. Quem sou eu para julgar?  Hoje eu...