Pois é! Quem diria?
Adamastor, conhecido por sua vontade de arrumar uma namorada bonita, rica, elegante, simpática e discreta, já andava meio desanimado por tanto tempo passado sem conseguir seu intento. A esta altura, ele já estava achando que a namorada não precisava mais ser tããããão bonita, ou rica, ou elegante, ou simpática, muito menos tããããão discreta. Sendo uma moça, mesmo que não tãããão moça, já serve, pois a idade vem, os cabelos se vão...
Pobre Adamastor.
Acontece que, dia destes, chamado a participar de um simpósio sobre o sistema pelo qual ele responde em seu município, que se daria em cidade próxima, acordou atrasado, mas bem disposto, como sempre. Tomou um banho rápido, passou o desodorante, a colônia, vestiu-se primorosamente, como é o seu jeito, apressadamente mas não tããããão depressa.
Pegou o seu carro e dirigiu até à o trabalho, donde seguiu viagem, em companhia de algumas jovens senhoras, ou quiçá, senhoritas.
Todas mostraram-se encantadas com a gentileza, o sorriso cativante e o perfume inebriante do nosso querido amigo.
Chegados ao destino, mal tem início o simpósio, Adamastor percebeu que a prócer daquela área estava mancomunada com um esbirro, preparando armadilhas a fim de diminuí-lo aos olhos dos demais, desgostosa que estava de sabê-lo ali, já que o mesmo era quem mais profundamente conhecia aquele trabalho, talvez quem deveria dirigir os trabalhos.
Consternado, tentando manter-se calmo, aplicava-se a cada momento em se livrar dos laços armados, pois, instintivamente, sentia que o queriam derrubar.
Em dado momento, ao virar-se para a direita, viu o olhar de Hermenegilda.
Muito mais que isso. Ah, Hermenegilda...
Como não a percebera antes? Ela que, em todas as oportunidades, mostrava-se solícita, figura benfazeja... Ruborizou-se ao perceber a simpatia e carinho explicitados naquele olhar. Sorriu. Via nela mais que uma aliada, com quem poderia se conluiar contra aquela maquiavélica prócer.
Viu-a como nunca havia visto alguém...
Tentou voltar ao tema em discussão, mas quê? Como ouvir outra coisa senão seu coração, que, agora estava aos pulos, fazendo-o olhar mais uma vez, mais outra, para aquela que o despertara para o amor.
Pela primeira vez percebera o brilho dos olhos, o frescor dos lábios, o olhar carinhoso...
Hermenegilda... HER... ME... NE... GIL... DAAAAA...
Ela era linda...
HERMENEGILDA E ADAMASTOR
Hermenegilda era uma mulher simples e bonita, inteligente, bem formada, mas praticamente deixara de viver, desde que seu noivo a abandonara no altar.
Jurara a si mesma nunca mais confiar, nunca mais se entregar a alguém.
Seu coração se fechara, e ela deixara de considerar a hipótese de ter um namorado, de se casar, ter filhos...
Os anos foram se passando e ela ia se dedicando mais e mais ao trabalho, tentando afogar aquela frustração.
A vaidade se fora. Deixara de se cuidar. Os cabelos, loiros e lisos, outrora tão lindos, eram agora amarrados de um modo simples, formando um pequeno rabo, quando não os cortava bem curtos.
Suas roupas não deixavam ver a harmonia de suas linhas. Parecia-se mais com uma austera professora, do que com a jovenzinha gentil e sonhadora de anos atrás.
Curiosamente, com tudo isso, não tornara-se amarga, mas indiferente.
A vida passava e ela não percebia, imersa em seu trabalho.
Acordou, naquela manhã, muito cedo, como era seu costume. Neste dia participaria de mais um seminário sobre o sistema de que era responsável em seu município, e que ocorreria em uma cidade próxima.
Ela gostava daqueles momentos, pois a tiravam da mesmice de sua repartição, e ela podia discutir os assuntos que tanto gostava, com pessoas que faziam parte daquele mundo à parte.
Tomou um rápido banho, maquiou-se levemente, vestiu-se. Há tempos não usava um perfume. Perfumar-se lhe parecia algo despropositado, pois, inconscientemente, temia que algum homem pudesse reparar nela, e era isso que ela evitava, mas, não sabia por que, pegou de uma colônia que ganhara de uma colega, e ousou sonhar, ao sentir aquela inebriante fragrância.
Na condução que viera buscá-la, passou a olhar a paisagem, vislumbrando aqui e ali uma árvore que se destacava, ou uma pessoa que trabalhava. Viu crianças brincando em uma pequena praça e permitiu-se sorrir.
Ah, há quanto tempo não sorria? Como era bom aquilo. O balanço indo-e-vindo, crianças correndo, uma bola parada...
Passou a recordar os momentos felizes de sua infância, e, imersa em si mesma, chegou ao local do seminário, com pequeno atraso.
Desceu feliz, leve, sorrindo para todos, sem mesmo perceber, feliz que estava, e entrou para o simpósio, percebendo que o assunto discorrido era já conhecido, simplesmente uma atualização das normas.
Sem querer, sorrindo ainda, seus olhos encontraram-se com os dele...
ADAMASTOR!
Ele sempre lhe parecera muito esquisito, cheio de manias, metódico ao extremo, mas alguém que realmente entendia aquele trabalho, e com quem, algumas ocasiões, discutira detalhes importantes.
Naquele momento, percebeu no olhar do Adamastor a solidão que existia em si própria, e conscientizou-se de estar tão sozinha há tanto tempo.
Ruborizou levemente, o que a deixou ainda mais bonita, e então, virou-se para ele, e ...
... sem querer, pela primeira vez em suas vidas, Hermenegilda e Adamastor deixaram de participar do seminário, mesmo continuando presentes naquela sala.
Ela só pensava nele, e ele só pensava nela.
Explicações do Velho Pescador.
Os personagens acima não são apenas ficção, mas retratam pessoas conhecidas, ou não!
Vamos aguardar o desenrolar para dar prosseguimento a este romance.
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