quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Capelania hospitalar



Uma visita hospitalar indesejada

Na terça-feira, como de costume, saí da capela do hospital onde estivera orando, nos minutos que antecediam a visita. 
Chegando à porta do quarto, que estava em leve penumbra, vi as costas descobertas de um homem que estava deitado, meio que de lado, e no outro leito um jovem moreno que estava muito sorridente – mais sorridente que o normal para um hospital, num quarto semi-escurecido pelas grossas cortinas. Pedi licença e lancei uma boa tarde, e, enquanto entrava, virei a cabeça tentando ver o rosto do outro homem, que estava com os olhos fechados; Falando baixinho com o jovem pra não acordar o outro paciente, fui interrompido por um vozeirão do primeiro, que dizia:
- Eu é que não vou dormir mais nesse hospital! Vai que ela volte e ore por mim! Eu hein?! Não durmo não! Está muito cedo pra eu morrer.
O jovem incontido ria ainda mais, chegando a gargalhar. Fiquei em silêncio tentando descobrir o que estava acontecendo e outro paciente estranhando também a excessiva euforia do jovem, abriu os olhos e viu que vinha “mais um para orar!”. Tranquilizei-os e me apresentei e eles também eles se apresentaram. O jovem sorridente chama-se Edson, 33 anos com cirurgia recente devido a acidente de moto; O outro é o Sr. Geraldo, aproximadamente 64 anos, havia passado por cirurgia no dia anterior e estava ainda com dores, o que não o impedia de mostrar sua alegria e assim eles passaram a descrever o que se passara naquele quarto quinze minutos antes da minha vinda. Eis uma parte do diálogo:
Geraldo – Uma senhora baixinha entrou aqui dizendo que ia orar por nós, disse que é da igreja “tal” e que a oração dela é poderosa...
Edson – Ela disse que orou por um homem e uma hora depois ele morreu! KKKKK...
Geraldo –Ela falou que já orou por quatro que precisavam partir e que eles partiram.
Edson – Eu é que não quero ser o próximo!
Durante o diálogo fiquei sabendo que o Sr. Geraldo é convertido e que frequenta a igreja Metodista e que o Edson tem os pais evangélicos,vive com uma companheira e possui duas filhas (sendo um bebê).
Lembrei ao Sr. Geraldo de que estamos firmemente protegidos pelas mãos do Senhor Jesus e que o Pai confirma essa proteção. Voltando-me para o Edson perguntei: Os seus pais são evangélicos, e você? 
– Ah! Eu às vezes oro, quando vou fazer algo diferente chego a pedir que ele me abençoe, mas nunca me firmei.
Comecei então a demonstrar o amor de Deus para conosco falando da natureza e seus animais e pelo fato de amarmos os nossos cônjuges e recebermos de presente um bebê, prontinho – igualzinho a nós, que irá crescer e ter uma vida como a nossa. Contei de que Deus tem propósitos para as nossas vidas com esse amor tão grande e perguntei se ele entendia a vinda de Jesus e porque ele morreu. Ele respondeu que não, então perguntei: 
- Posso contar-lhe agora? 
E calmamente expus todo o plano de Salvação focando a necessidade de correspondermos ao amor de Deus com o mesmo ardor que recebemos. Durante todo o tempo ele ficou muito atento. Tive uma forte impressão de que ele estava refletindo e comparando o que ouvia com alguma situação anteriormente vivida. Seu olhar dirigido aos meus olhos, sem nenhum piscar, nenhum movimento. Senti que ele precisava de mais tempo. Perguntei-lhe se poderia orar por ele, ao que ele respondeu: 
- Peça pela minha cirurgia; 
e assim oramos.
Eu tinha certeza que o irmão Geraldo estava orando pelo Edson durante toda a conversa e quando me voltei para ele, pediu-me que orasse pelo seu menisco.
Deixei-os na Paz de Cristo.
Lembrei-me de outra ocasião em que fazia uma visita nesse mesmo hospital, a mesma mulher de que eles falaram tinha interrompido a minha conversa com o paciente, entregando um folheto aos pacientes do quarto, falando alto e voltando-se para mim perguntou:
- O Sr. é padre? 
- Não, respondi. 
De imediato ela completou:
- Ah bom! Se não eu diria para você se converter pra não ir para o inferno. 
A visita dela durou 12 segundos e deixou os pacientes muito irritados.

A visitação neste hospital
A Santa Casa desta cidade teve suas portas fechadas para a visitação por muitos anos, conforme os relatos que ouvi. Um grupo grande de voluntários dirigidos pelo Sr. Espada, 81 anos, adventista, trabalhou na cozinha, na limpeza, na cantina e muitas vezes socorreram os enfermeiros no cuidado de pacientes. O Sr. Espada se aposentou, mas o grupo permanece na ativa. Eles organizam ainda, as campanhas para arrecadação de alimentos, material de limpeza e roupa de cama.


A visitação teve o seu reinício há mais ou menos dois anos, junto com uma campanha de reforma do pronto socorro, onde as igrejas foram convidadas a participar obtendo também, o direito de enviar equipe de visitação que pode atuar uma vez por semana. Assim nossa igreja ficou com as terças-feiras. 
Uma funcionária do Hospital responsável por organizar a visitação explicou que aquela senhora é colaboradora voluntária há muitos anos, desde que recebeu um tratamento contra o câncer; Conta ainda, que a equipe de voluntários tem por ela um carinho especial, e que ela será reorientada em suas atuações com o carinho e atenção que merece por sua prontidão e amor.


Estudando sobre visitação hospitalar
Quando percebi a minha ignorância no assunto “Consolo” é que comecei a estudar capelania, buscando ser um visitador que leve a Paz e não atrapalhe. Já estudei nas suas minúcias dois dos livros de Eleny Vassão; de um deles estou fazendo um resumo que servirá de pré-requisito para o curso que deverá durar quinze dias e outros quinze de estágio e agora percebi que há um grupo oferecendo palestra de cinco horas sobre visitação por cinquenta Reais, e caso o participante pague mais quinze Reais recebe uma carteirinha de visitador hospitalar. 
Incomoda-me imaginar quantas pessoas sairão “habilitadas” por esse grupo, e que filtro será eficiente para em cinco horas credenciar os “habilitados”.  Sei que o Brasil é exemplo na área de capelania hospitalar, com seus mestres buscando um constante aperfeiçoamento na dependência de Deus; Porque baratear esse serviço ao Senhor? Quero dizer que as palestras devem ser interessantes e até ensinar muito; Elas são para serem proferidas; Elas são para transmitir algum conhecimento, mas não para credenciar. Credenciamento é tarefa para os cursos de formação e para os órgãos competentes.

Que o Senhor tenha misericórdia.

Carlos R Anderson – 17 de setembro 2013


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