Imagem: Clip-art
É gostoso lembrar destas coisas!
Quando criança eu morava no bairro da Penha, em São Paulo, em um
loteamento novo, ruas em forte declive, de terra, ainda, pois o asfalto
demoraria a chegar, eu vivia bem feliz.
Muitos pomares, riacho, campos de futebol na várzea, um pequeno lago,
árvores, diversas casas em construção.
Um paraíso para as crianças brincarem.
Por vezes, o excesso de chuva criava erosões gigantescas, para um
observador do meu tamanho, e eu gostava de me embrenhar por elas, sem medir os
riscos. Nunca me aconteceu um acidente quando estava lá embaixo. O pior que
acontecia quando ia brincar lá embaixo, era furar o pé em um caco de vidro, ou ter
uma farpa de madeira espetada no dedo, nada sério.
Nessa época, tínhamos um patinete, feito em casa, com rodas grandes; quase
perfeito, a não ser pelo freio. De vez em quando, o pedal passava para baixo da
tábua, deixando-me ao deus-dará.
Quando isso acontecia, havia três possibilidades:
1- Manobrar o patinete,
fazendo-o derrapar para um dos lados, diminuindo a velocidade
2- Pular, e sair correndo
para não cair
3- Tentar pular, mas já
sair rolando antes de começar a correr. Um acidente que, normalmente, doía muito.
Era comum eu chegar escoriado quando andava de patinete, mas nunca foi nada
muito sério, exceto aquela vez em que rolei para dentro da erosão.
Quase desmaiei, com o susto.
Fui tentar a derrapagem para perder a velocidade, e não percebi que estava
perto do buraco. Repentinamente o chão sumiu debaixo de mim. Eu ia indo bem,
mas, repentinamente, o patinete bateu na lateral do outro lado do barranco,
caí, e o patinete caiu por cima de mim.
Levei vários segundos para tentar levantar. Parecia que o patinete havia
crescido, ficado pesado, e aquelas estrelinhas girando...
Quando consegui me levantar, olhando para fora do buraco, tornei a me
esconder, pois, na esquina de cima, acabara de ver algumas crianças da minha
turma, meus amigos, e fiquei com medo que percebessem o acontecido.
A gozação doeria mais que os diversos ferimentos obtidos com aquele tombo.
Felizmente nenhum deles percebeu minha queda, e eu continuei mais um tempo
no buraco, fingindo que estava brincando lá embaixo.
Só alguns dias depois foi que contei aos amigos o que acontecera, mas então
já não sofreria com o deboche que pudessem fazer.