Aquele menino era feio demais
Não se deve dizer que alguém é feio, eu
sei.
Politicamente incorreto, se diria hoje,
mas, quando ele nasceu, ainda não haviam inventado o PT.
Bons tempos, aqueles...
O menino nasceu na própria casa (era o
costume da época), e sua avó foi a parteira.
Que susto ela tomou!
Ela pegou aquele neném, como já
tinha feito com os irmãos mais velhos, olhou-o com carinho, já sorrindo, e...
Ploft!
Desmaiou.
O bebê era feio, mas muito feio. Feio
demais.
Ainda bem que a tia estava do lado, e,
quando a avó caiu, ela segurou o bebê, evitando a queda.
A tia, por sua vez, ao olhar para o
bebê, ficou em estado de choque.
Não chorava, não falava, apenas tremia;
e o bebê ali, em seus braços.
O pai do menino pegou-o no colo, olhou
com cuidado, descobriu onde estavam as pernas, e, ficou rolando o neném de um
lado para outro, tentando descobrir onde é que devia bater.
Percebeu então que era um menino.
O bebê era redondo, literalmente.
A única coisa que sobressaia era a
cabeça. Um cabeção enorme.
Quando, finalmente, o pai deu-lhe um
tapinha, ele começou a chorar e não
parava mais.
Chorava, e chorava, chorava...
Aos berros...
A mãe, mãe é mãe, preocupada, pegou-o no
colo, levou-o ao seio, e ele começou a mamar, com uma gula indescritível.
Não parava mais.
Era muito feio. Impossível piorar...
E toda a vizinhança foi visitar aquela
mãe, com aquele menino feio. Só para confirmar que era mesmo feio.
E eu sou assim até hoje.
Velho Pescador