quinta-feira, 16 de maio de 2013

O menino feio



Aquele menino era feio demais

Não se deve dizer que alguém é feio, eu sei. 

Politicamente incorreto, se diria hoje, mas, quando ele nasceu, ainda não haviam inventado o PT.

Bons tempos, aqueles...

O menino nasceu na própria casa (era o costume da época), e sua avó foi a parteira.

Que susto ela tomou!

Ela pegou aquele neném, como já tinha feito com os irmãos mais velhos, olhou-o com carinho, já sorrindo, e...

Ploft! 

Desmaiou.

O bebê era feio, mas muito feio. Feio demais.

Ainda bem que a tia estava do lado, e, quando a avó caiu, ela segurou o bebê, evitando a queda. 

A tia, por sua vez, ao olhar para o bebê, ficou em estado de choque. 

Não chorava, não falava, apenas tremia; e o bebê ali, em seus braços.

O pai do menino pegou-o no colo, olhou com cuidado, descobriu onde estavam as pernas, e, ficou rolando o neném de um lado para outro, tentando descobrir onde é que devia bater. 

Percebeu então que era um menino.

O bebê era redondo, literalmente.

A única coisa que sobressaia era a cabeça. Um cabeção enorme.

Quando, finalmente, o pai deu-lhe um tapinha,  ele começou a chorar e não parava mais. 

Chorava,   e chorava,   chorava...

Aos berros...

A mãe, mãe é mãe, preocupada, pegou-o no colo, levou-o ao seio, e ele começou a mamar, com uma gula indescritível.

Não parava mais.

Era muito feio. Impossível piorar...

E toda a vizinhança foi visitar aquela mãe, com aquele menino feio. Só para confirmar que era mesmo feio.

E eu sou assim até hoje.

Velho Pescador
 

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