Dia desses, a caneta na mão, os óculos no bolso, precisei subir à Divisão de Contabilidade, no quinto andar do Paço Municipal, e, para tanto, entrei no elevador (aquele elevador novo, muito lento, exageradamente lento, todo em inox, com lâmpadas fluorescentes nas laterais, etc. etc.). Apertei o botão correspondente e, ao olhar para traz, vi um sujeito, me pareceu simpático, e cumprimentei-o cordialmente com um bom dia, e perguntei, com toda delicadeza, em que andar ele iria, para que eu pudesse marcar no painel, mas o sujeito nada respondeu.
Resolvi me calar, pois é um direito do contribuinte entrar no elevador e também é um direito constitucional, o de ir-e-vir, com liberdade, mas achei estranha aquela atitude.
Passei a prestar atenção naquele sujeito. Definitivamente, embora aparentasse, ele não era muito simpático. Eu o olhava e ele me olhava; eu olhava para outro lado e ele fazia o mesmo.
Me calei e deixei seguir, mas estava preocupado enquanto o elevador subia. Passou pelo primeiro... pelo segundo..., e tudo continuava na mesma. Comecei a assobiar, me cocei, passei as mãos pelo cabelo, impaciente, e o sujeito nem para me dizer alguma coisa.
Comentei sobre o tempo (ô coisa boa para iniciar uma conversa!!!) e ele não respondeu. O elevador subindo... sempre subindo... naquela velocidade horrível, de poucos metros por minuto. Parecia que já fazia tempo demais que estávamos lá dentro!
Daí eu decidi; não era nada bonito o que eu ia fazer, mas eu já estava decidido. Quando o elevador parasse no quinto andar, o sujeito teria que descer, então eu sairia antes dele, o encararia e me apresentaria, pois estava deveras curioso, afinal, ele podia ser um surdo-mudo, um estrangeiro que não conhecesse nossa língua, ou talvez, alguém que estivesse fugindo da polícia da Grande São Paulo (anda dando medo, esses policiais de Diadema). Também poderia ser um assaltante, pois a Tesouraria ficava também no quinto andar. Talvez até fosse algum seqüestrador que tivesse vindo para sequestrar o Reinaldo, presidente da Associação, afim de conseguir, como resgate, um desconto na mensalidade da Unimed.
Ao chegarmos, enfim ao quinto andar, antes que as portas do elevador se abrissem, coloquei os óculos, virei-me para o sujeito e caí na gargalhada...
Ele era, simplesmente, o meu reflexo, no espelho!
Velho Pescador - Abril/97
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