Lá pelo ano é 2030 de nossa era, uma
conversa entre avô e neto tem início a partir da seguinte interpelação:
- Vovô, por que o mundo está acabando?
A calma da pergunta revela a inocência da
alma infante. E no mesmo tom vem a resposta:
- Porque não existem mais PROFESSORES, meu anjo.
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- Professores? Mas o que é isso? O que fazia
um professor?
O velho responde, então, que:
- professores
eram homens e mulheres elegantes e dedicados, que se expressavam sempre de
maneira muito culta e que, muitos anos atrás, transmitiam conhecimentos e
ensinavam as pessoas a ler, falar, escrever, se comportar, localizar-se no
mundo e na história, entre muitas outras coisas. Principalmente, ensinavam as
pessoas a pensar.
- Eles ensinavam tudo isso? Mas eles eram sábios?
- Sim, ensinavam, mas não eram todos sábios. Apenas alguns, os grandes
professores, que ensinavam outros professores, e eram amados pelos alunos.
- E como foi que eles desapareceram, vovô?
- Ah, foi tudo parte de um plano secreto e genial, que foi executado aos
poucos por alguns vilões da sociedade. O vovô não se lembra direito do que veio
primeiro, mas sem dúvida, os políticos ajudaram muito. Eles acabaram com todas
as formas de avaliação dos alunos, apenas para mostrar estatísticas de
aprovação. Assim, sabendo ou não sabendo alguma coisa, os alunos eram aprovados.
Isso liquidou o estímulo para o estudo e apenas os alunos mais interessados
conseguiam aprender alguma coisa.
Depois, muitas famílias estimularam a falta de respeito pelos
professores, que passaram a ser vistos como empregados de seus filhos. Estes
foram ensinados a dizer "eu estou pagando e você tem que me ensinar",
ou "para que estudar se meu pai não estudou e ganha muito mais do que
você" ou ainda "meu pai me dá mais de mesada do que você ganha".
Quando não, iam os próprios pais gritar com os professores nas escolas. Para
isso muito ajudou a multiplicação de escolas particulares, as quais, mais
interessadas nas mensalidades que na qualidade do ensino, quando recebiam
reclamações dos pais, pressionavam os professores, dizendo que eles não estavam
conseguindo "gerenciar a relação com o aluno". Os professores eram vítimas
da violência - física, verbal e moral - que lhes era destinada por pobres e
ricos.
Viraram saco de pancadas de todo mundo.
Além disso, qualquer proposta de ensino sério e inovador sempre esbarrava
na obsessão dos pais com a aprovação do filho no vestibular, para qualquer
faculdade que fosse. "Ah, eu quero saber se isso que vocês estão ensinando
vai fazer meu filho passar no vestibular", diziam os pais nas reuniões com
as escolas. E assim, praticamente todo o ensino foi orientado para os alunos
passarem no vestibular. Lá se foi toda a aprendizagem de conceitos, as
discussões de idéias, tudo, enfim, virou decoração de fórmulas. Com a Internet,
os trabalhos escolares e as fórmulas ficaram acessíveis a todos, e nunca mais
ninguém precisou ir à escola para estudar a sério.
Em seguida, os professores foram desmoralizados. Seus salários foram
gradativamente sendo esquecidos e ninguém mais queria se dedicar à profissão.
Quando alguém criticava a qualidade do ensino, sempre vinha algum tonto dizer
que a culpa era do professor. As pessoas também se tornaram descrentes da
educação, pois viam que as pessoas "bem sucedidas" eram políticos e
empresários que os financiavam, modelos, jogadores de futebol, artistas de
novelas da televisão - enfim, pessoas sem nenhuma formação ou contribuição real
para a sociedade.
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Extraído
Estamos caminhando direitinho para que esse diálogo se realize.
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