Comentário
de Julio Severo: Quer ajudar
os pobres e necessitados? Vá diretamente a eles. Se depender de entidades, o
dinheiro — de um jeito ou de outro, em menor ou maior grau — vai para ajudar a
conta bancária de piranhas. Recomendo ler o excelente artigo “Esquerdistas fazem doações que custam
caro — para você, não para eles” de Ann Coulter. O artigo abaixo é
da revista Veja:
MP
detecta desvio milionário de doações à Cruz Vermelha
Reportagem de VEJA desta semana mostra que recursos
doados à entidade no Brasil não foram aplicados como pensam os incautos
beneméritos
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VÍTIMAS
LESADAS - A tragédia retratada nos deslizamentos na região serrana do Rio (à
esq.), na fome na Somália (acima) e no terremoto seguido de tsunami no Japão:
cumprindo seu papel de prestar apoio e serviços em situações de emergência, a
Cruz Vermelha do Brasil pediu e recolheu doações, mas nem mesmo os
conselheiros da organização conseguiram ter acesso às contas
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Toda vez que uma catástrofe abala o planeta — seja
a Síria conflagrada, seja o Japão devastado por um tsunami, seja a região
serrana do Rio de Janeiro arrasada por chuvas e deslizamentos —, a Cruz
Vermelha se faz presente, prestando serviços sustentados por doações vindas de
todo o mundo. Com eficiência e credibilidade, a organização fundada em 1863
pelo suíço Jean Henri Dunant (ganhador da primeira edição do Prêmio Nobel da
Paz, em 1901) e sediada em Genebra, na Suíça, estabeleceu na prática os
direitos e deveres humanos depois consolidados na Convenção de Genebra, firmou
sólida reputação de neutralidade e, assentada em firme alicerce de
respeitabilidade, tornou-se uma máquina eficiente de arrecadação de doações e
recrutamento de voluntários — inclusive no Brasil, onde completa 100 anos de
atividade justamente em 2012. Um aniversário, infelizmente, tisnado por um
triste revés. O Ministério Público começa a revirar um lamaçal que aponta para
o desvio de um montante de dinheiro de doações à Cruz Vermelha. O valor, ainda
não totalmente conhecido, conta-se na casa dos milhões. Nas últimas quatro
semanas, VEJA entrevistou conselheiros,
funcionários, colaboradores e doadores da Cruz Vermelha, analisou mais de 1 000 documentos, e a conclusão do trabalho é que os
recursos doados à entidade no Brasil não foram aplicados como pensam os
incautos beneméritos.
No ano passado, a Cruz Vermelha Brasileira
organizou três grandes campanhas nacionais de arrecadação — uma para as vítimas
dos deslizamentos na região serrana fluminense, que deixaram 35 000 desabrigados; outra para a Somália, país
africano faminto e devastado por guerras civis; e mais uma para a tragédia do
terremoto seguido de tsunami no norte do Japão. Os recursos arrecadados nessas
campanhas, com toda a certeza, não foram aplicados em nenhum daqueles locais.
Nem um único centavo chegou a quem precisava. Nos três casos, as doações foram
encaminhadas para contas bancárias da entidade no Banco do Brasil em São Luís,
no Maranhão. Por que no Maranhão? Não se sabe, mas se suspeita: 1) porque o
presidente nacional da Cruz Vermelha, Walmir Moreira Serra Júnior, mora lá; e
2) porque justamente sua irmã, Carmen Serra, é quem comanda a filial da Cruz
Vermelha maranhense. Sob os argumentos mais diversos, os irmãos Serra passaram
a manter as contas sob sigilo, e nem o alto escalão da entidade tem informações
sobre o montante depositado ou sobre as movimentações.
Apesar de insistentes solicitações, a mais recente
em uma reunião em Brasília em 11 de junho, a comissão fiscal da organização no
Brasil, secundada por instâncias superiores, como a Federação Internacional da
Cruz Vermelha, tentou em vão ver o extrato das contas. “As coisas não estão
sendo feitas de forma transparente. Estamos exigindo uma informação, mas ela
nunca vem”, diz o representante da Federação da Cruz Vermelha para a América do
Sul, Gustavo Ramirez, que reuniu e enviou para o Japão o dinheiro arrecadado
nos outros países — menos o do Brasil. Sobre a campanha para ajudar os famintos
da Somália também paira um ponto de interrogação. “Fizemos parceria com a Cruz
Vermelha do Brasil, mas não sei onde foi parar a parte que eles arrecadaram”,
fala com perplexidade o suíço Felipe Donoso, delegado para Argentina, Brasil,
Chile, Uruguai e Paraguai do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV).
A investigação das contas misteriosas, que vinha
ocorrendo em sindicâncias internas, extrapolou o âmbito da organização em
fevereiro, quando Letícia Del Ciampo assumiu o comando do escritório da Cruz
Vermelha em Petrópolis, uma das cidades do Rio de Janeiro devastadas pelas
chuvas do ano passado. Letícia constatou as irregularidades, reuniu documentos
e entrou com duas ações no Ministério Público estadual — uma contra a Cruz
Vermelha da cidade serrana, outra contra a nacional. Além de constatar que
Petrópolis não recebeu um tostão do dinheiro que foi parar nas contas secretas
do Maranhão, ela descobriu desvios em outras áreas. Ambulâncias novas que
deveriam estar servindo a região nunca apareceram, e as antigas estão sem
manutenção há muito tempo, o que praticamente inutilizou a frota. Há sinais de
problemas também em um convênio feito com o governo do Distrito Federal com o
objetivo de passar à Cruz Vermelha a gestão de uma Unidade de Pronto
Atendimento (UPA) em Brasília. Em 2010, a Cruz Vermelha-Petrópolis recebeu 3,7
milhões de reais adiantados, mas ela nunca prestou serviço algum e está sendo cobrada
na Justiça pela devolução do dinheiro. “A Cruz Vermelha brasileira está
cometendo crimes contra a humanidade. Desde que assumi o cargo, o que mais ouvi
foram pessoas dizendo que catástrofes são ótima oportunidade para ganhar
dinheiro”, dispara Letícia.
Outro foco de irregularidade envolve o escritório
do Rio Grande do Sul, contratado para gerenciar um hospital municipal em
Balneário Camboriú, Santa Catarina. Uma CPI apurou desvios de dinheiro ali e
indiciou dezesseis pessoas no mês passado, entre elas o presidente Moreira
Serra e seu vice, Anderson Choucino. Cerca de 1,5 milhão de reais pagos à Cruz
Vermelha pela prefeitura foram parar nas gulosas contas secretas do Maranhão.
Está cercado de suspeitas também o aluguel de parte do terreno onde fica o edifício-sede
da organização, no Rio de Janeiro. A intermediação da locação foi entregue à
Finance Consultoria, empresa que ocupa uma sala minúscula em um prédio de
Olinda, Pernambuco. A Finance cobrou 83 milhões de reais pelos serviços
prestados. As cifras, suspeitíssimas, são contestadas por conselheiros da Cruz
Vermelha.
O processo de arrecadação das três campanhas de
2011 já seria em si motivo para envergonhar os responsáveis pela imagem de uma
instituição patrimônio da humanidade como é a Cruz Vermelha. A Embaixada da
África do Sul destinou 230 000 reais
aos desabrigados da serra fluminense e nunca recebeu um relatório sequer sobre
a utilização do dinheiro. VEJA teve acesso a uma lista de empresas e bancos que
juntos doaram cerca de 1,5 milhão de reais para os desabrigados fluminenses.
“Não vimos a cor do dinheiro”, diz Rosely Sampaio, diretora executiva da Cruz
Vermelha carioca. A Cruz Vermelha do Japão registra o recebimento de 164 000 reais para as vítimas do tsunami, mas os
recursos eram provenientes apenas da Cruz Vermelha de São Paulo. O dinheiro
arrecadado pelo escritório nacional foi parar nas contas secretas do Maranhão.
A suspeita é que o dinheiro que deveria ajudar a Somália tenha tido o mesmo
destino — as contas controladas pelos irmãos Serra. Quando a comissão fiscal da
entidade deu um prazo final para que o sumiço do dinheiro fosse explicado,
Moreira Serra, presidente nacional da entidade, simplesmente extinguiu o órgão
fiscalizador. Serra recusou-se a falar com VEJA. Enquanto no mundo todo a
Cruz Vermelha ajuda os desvalidos, no Brasil é ela que pede socorro.
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