São Paulo, 1963 Uma tarde, batendo papo, o Mauro, o Marcos e eu, combinamos
nossa primeira pescaria, para o dia seguinte.
O Mauro, com quinze anos, eu, com treze e o Marcos com doze.
Onde pescar? Na Represa Billings, uma represa linda, cheia de bons peixes, mas
bastante distante de onde morávamos.
Que isca levar? O Marquinhos falou de levarmos capim-gordura, que as tilápias
gostavam, e aí virou piada, pois o seu sobrenome era Coelho, mas ele estava tão
sério que topamos levar uma sacola cheia de capim, além de larvas, massa,
minhocas e tudo o mais que achamos contribuir como isca ou ceva.
Combinados! Sairíamos de casa às 5:30, pegando o ônibus para o Parque Dom Pedro
II, de onde sairia o outro às 06:15h para o Alto da Serra. Combinados, mas...
O primeiro ônibus atrasou uns quinze minutos, e perdemos o que nos levaria à represa.
Ficamos ali, cheios de capim e de vontade de pescar, pensando: Esperar até 10
horas da manha pelo próximo, ia ser complicado... Haveria outro ponto de
pesca?...
Perdidos em nossas elucubrações, não vimos uma Kombi chegar. Por sorte o
motorista gritou:
- Lotação para o Riacho Grande..., Lotação para o Riacho Grande...
Lá fomos nós. Embarcamos perua lotada de pescadores, que, por nossa
inexperiência patente, começaram a rir de nós.
Um, olhando nossa sacola, dizia:
-Vão fazer salada? Preparados para o almoço?
O outro emendava:
-Vão pescar bodes?
E assim foi durante o trajeto. Todos rindo muito de nossa isca.
Ao chegarmos na represa, o pessoal se espalhou, enquanto nós, adolescentes, nos
juntamos em um ponto que escolhemos, e fizemos a ceva com um feixe de capim,
que amarramos na ponta de uma vara comprida. Jogamos mais algum farelo por ali,
e fomos preparar a tralha.
Logo percebíamos o movimento dos peixes no capim.
Iscamos com uma folhinha do próprio capim, lançando-a com o auxílio de uma
pequena bóia, ao lado do feixe, e logo víamos a linha correr. Uma boa
tilápia, seguida de outra, e mais outra...
Enquanto isso os outros pescadores só pegavam pequenos peixes, e se aproximaram
um pouco do nosso grupinho, mas não tinham a “mesma técnica”, e não obtiveram bons
resultados.
No retorno, na van, nosso samburá estava cheio de lindas tilápias, todas na média
de 900g a 1k, enquanto os demais tinham pouquíssimos peixes, todos pequenos.
A brincadeira virou...
Começamos a perguntar se eles não gostavam de tilápias grandes, se as panelas
que dispunham em casa seriam pequenas, e coisas assim, mas logo percebemos que
era melhor o silêncio, pois alguns pescadores ficaram muito revoltados com a
nossa “sorte”.
E foi pura sorte, mesmo...
Sorte de principiantes!