quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Bentinho, entre dois botecos

Uma das historias da Penha-SP

Início dos anos 60.
A Rua Mirandinha, da metade para o fim, tinha dois botecos: A vendinha do “Seu Zé” e o boteco do Marino,  a uns trezentos metros de distância, e aí, entre um e outro, circulava o Bentinho, sujeito simpático, inchado e abandonado .
Creio que ele mesmo se abandonou, devido à cachaça... O inchaço também se devia à própria.
Ele não falava muito do seu passado, a não ser que fora soldado do Corpo de Bombeiros.
Casado? Filhos? Ninguém sabe.
O que o pessoal sabia a seu respeito é que ele vivia em uma casa abandonada, à beira do córrego do Rincão, junto à ponte, e isso por vários anos. Algumas famílias lhe davam um prato de comida, ou um pão, que ele agradecia com uma palavra humilde.
O mesmo trajeto, várias vezes a cada dia, pedindo uma cachaça em um bar e no outro.
Nas primeiras do dia, tinha que segurar o copo com ambas as mãos, de tanto que tremia. Se o proprietário não lhe desse, alguém pagaria uma, pois muitos gostavam dele, com seu jeito bonachão, de menino grande. Quando não, ele chegava à vendinha com um copo de dose, que surrupiara do outro boteco, e o trocava por outra pinga. Ficava por ali uns momentos, e lá se ia, com outro copo no bolso, desta vez surrupiado da vendinha, e o trocava por outra cachaça no barzinho lá de baixo. Isso prosseguia dia após dia.
Os comerciantes achavam que estavam fazendo bom negócio, trocando um copo por uma pinga? Se assim fosse, lhes faltava observação, pois seu “estoque” de copos nunca aumentava, apesar de receber cerca de 5, 6, 10 copos ao dia. Era uma soma sem adição, quase um “milagre”, podemos dizer, pois, ao somar um, sem se dar conta, subtraía-se outro, e a quantidade permanecia estável, e por vezes, diminuía.
Eu, que trabalhei na vendinha durante vários meses, achava interessante aquela atitude, mas, quem era eu para comentar? Apenas um garoto, de dez ou onze anos.

Num inverno, noite muito fria... Temperatura bem abaixo de 0ºC.
Todos se recolheram mais cedo, e, no dia seguinte, a notícia...
O corpo do Bentinho foi encontrado, gelado, deitado próximo aos restos de uma pequena fogueira.. 
Muito pequena. 
O fogo se apagou.
O Bentinho ficou apenas na lembrança...

Acabou a negociação de um copo por uma pinga,
Não se via mais a figura do Bentinho, subindo e descendo a ladeira, com seu sorriso amigo cumprimentando a todos, paletó surrado, chinelos protegendo uns pés inchados.


Morreu de frio, o coitado...

Algumas vezes fiquei pensando:

No bolso do defunto, talvez houvesse um copo, preparado para o “desjejum”...

Pobre Bentinho.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Meus votos



Que em 2014 a mentira não prevaleça,
a sociedade seja mais séria e os valores respeitados,
a corrupção banida, e não considerada algo comum.
os criminosos sejam punidos, e se corrijam,
e os dependentes químicos tenham a chance de se recuperar

Que neste ano as famílias se unam,
haja amor e respeito nos lares,
os filhos honrem seus pais
e sejam honrados e cuidados por eles.
e que cada idoso receba carinho e atenção devidos.

Que a sociedade socorra os desvalidos,
e cada um dê o melhor de si em favor do próximo.
Que não falte o trabalho, digno e honrado,
que o salário, seja suficiente, e tenhamos sabedoria para administrá-lo.
Que não falte o pão em nossas mesas, e haja sempre prosperidade.
Que a nossa mão esteja sempre estendida para ajudar,
e o nosso ombro pronto a amparar.

Que as pessoas possam confiar umas nas outras,
Os eleitos cumpram honestamente os cargos recebidos.

Que os melhores sonhos se realizem,
a saúde seja uma constante,
e todos os problemas alcancem a melhor solução.
Que o trabalho continue a ser feito da melhor maneira,
em prol daqueles que precisam ou dependem de nós.

Desejo que, no próximo ano, continuemos a ser amigos leais e sinceros.

Sobretudo,
eu desejo que o Senhor Jesus Cristo,
A razão do Natal,
esteja presente em cada lar trazendo a paz que só Ele pode dar.

Feliz Natal
Feliz Ano Novo
e um grande abraço deste Velho Pescador

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Vivendo sem Deus

O poeta Samuel, do Luso-poemas, tem muitos escritos bastante interessantes, e pedi-lhe permissão para publicar este. 
Provavelmente é apenas o primeiro que publico dele. Espero que você goste.

Velho Pescador


               Samuel
Vivendo sem Deus


É querer ser órfão de pai
E carregar um peso absurdo sozinho
É acordar chorando de um pesadelo de madrugada
E não ter o costume de agradecer rezando baixinho
É querer seguir sozinho
Nos perigos da vida e suas mazelas
Caminhar sem uma proteção nem um porto seguro
Sem ninguém para se estender a mão quando se leva uma queda
É como uma arvore sem raiz
Que na primeira tempestade já se abala
É querer enfrentar essa vida cruel de frente
Sem nenhuma armadura,escudo ou espada
O cardápio existencial é amargo
E a vida parece cada vez mais difícil
Mas apesar das loucuras desse menu
Certas coisas são privilégios dos vivos
Deus meu,Deus meu
Reconheço meu egoísmo
Vamos fazer as pazes
Resgate esse morto vivo!

Samuel
20/11/2013

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Pés que trazem boas notícias.




Como são formosos, os teus pés,
missionário, que veio me falar do Evangelho.
Mesmo com essas feridas, cicatrizes e deformações
Os teus pés são muito bonitos.

Foi maravilhoso vê-lo chegando,
dolorido, o corpo exausto,
alegria imensa,
trazendo a notícia...

- Jesus nasceu,
- Jesus morreu,
- Jesus ressuscitou.

E eu, naquele dia, ouvindo mais uma vez essa notícia, 
pus-me a cismar:
Ah, eu não cria, eu não queria acreditar que Jesus, 
o Cristo, é Deus, 
e morreu em meu lugar.

Imaginava no coração o que eu havia aprendido
Achava que eu é quem pagaria por tudo o que havia vivido
E que não havia outro jeito, e, com tudo o que eu tinha feito...
Como é que eu iria pagar?

Imaginava que Deus fosse apenas uma força enorme,
Nunca uma pessoa; e se o fosse, como é que me veria?
Olhar para mim, me amar? Impossível, eu garantia.
E assim eu persistia, vivendo como um verme

Depois do que você me disse, eu fiquei preocupado
Ajoelhei-me, sozinho, em um banco apoiado.
E, na capela vazia, comecei a falar...

“Jesus! Se você é Deus, como me diz esta pessoa,
Eu te peço, me perdoa se não consigo acreditar”
E ali, ainda prostrado, as lágrimas a correr,
Comecei a falar de mim, e tudo eu lhe falei

Falei dos meus desacertos, e dos sonhos que vi morrer,
das tristezas, desenganos, sobre nada eu me calei
Falei do mal que fiz às pessoas, e a quantos decepcionei...
Falei da minha família, daqueles que abandonei

Jesus! Se, de fato, tu és Deus, como dizem estas pessoas
Revela-te, me toca!  Renova a esperança em mim.
Eu preciso ser tocado, curado, perdoado, aceito,
Já não creio mais em mim... Só tu podes dar um jeito.

E, à medida em que falava, eu o sentia mais perto,
E de repente, todo aperto, que eu sofria, se foi
Fui inundado pelo amor que de Jesus emanava
Diante dele eu chorava...
Foi assim que o encontrei.

Tudo mudou então, e nada mais eu temia
Seu sacrifício, que envolveu tanto sofrimento,
Não foi só para aquele momento, mas foi eterno, universal.
Morreu pelo ser humano de qualquer época ou lugar,
E, mesmo tão diferentes, por Sua morte, nos tornamos iguais.

Renova tua esperança, pois existe uma saída...
Estou contigo, meu filho, você não precisa temer
Apenas creia, sossega, renovarei tua vida
Vou curar tuas feridas, você não precisa sofrer

Aquele foi o início de uma vida transformada
A esperança renovada... Agora eu já tinha a paz.
Jesus abriu os caminhos, e mostrando que me amava
Me deu o que eu precisava, e hoje eu não choro mais.

Obrigado, missionário,
Evangelista, pregador
Que Deus abençoe tua vida
E retribua tanto amor.



“Quão formosos são, sobre os montes, os pés do que anuncia as boas novas, que faz ouvir a paz, do que anuncia o bem, que faz ouvir a salvação, do que diz a Sião: O teu Deus reina! “

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Quadro singelo

Olá!
Publico abaixo mais um trabalho da minha amiga Helena. 
Um poema que descreve uma tela, ambos de sua autoria.
Vólena é uma jovem senhora, com pouco mais de oitenta anos, que tem uma cultura invejável, escreve muito bem, idéias bem lúcidas e limpas, enfim, um exemplo para todos nós.

Velho Pescador.





Quadro singelo

Debruço-me no meu olhar
reflexo do um sentimento
que aflui mesmo sem querer
numa miragem do pensamento.
Um muro caiado de há tempo
e atrás empoleirado um moço
ampara a foice no ombro
Chapéu de palha enterrado.
Tem um esgar de atrevido
mas também de brincalhão
Olhos penetrantes, vivaços
sorriso bonacheirão.
Do lado de cá do murete,
trajada mesmo a rigor
com um ar de diabrete
cheia de graça e de cor
uma moçoila minhota,
mimosa no seu rubor,
pega no lenço,esconde-se a marota,
Na outra mão, tem um novelo
que estava agora a dobar
…a dobadoura espera o apelo,
para poder recomeçar.
Uma cena mais campestre
não podia idealizar.
Em volta tudo ramadas
de flores a despontar.
Tela que como imaginei
e acabei por pintar.

Vólena

Exagerada!

Pois é! Tem um monte de histórias de pescador, e muitos dizem que é mentira, mas eu me calo. Quem sou eu para julgar?  Hoje eu...