sexta-feira, 24 de maio de 2013

No Supermercado



No Supermercado
by Betha Mendonça

Não havia jeito: ou me aventurava ir ao supermercado comprar alimentos ou minha família passaria fome a partir do dia seguinte. Como quase sempre me meto em situações embaraçosas quando vou às compras, me prepararei psicologicamente, fiz exercícios respiratórios e fui para loja como quem vai para guerra.

No local, como de costume, eu peguei um carrinho de dois andares. Dirigi nos corredores com a máxima atenção. Em rápidos "pit stops" retirava das prateleiras os gêneros de meu interesse e os arrumava no carrinho. Feliz por tudo estar bem, sorria satisfeita comigo mesma... Até bater numa gôndola cheia de sabonetes em promoção e derrubar centenas deles ao chão. Um fiscal que me seguia falou solícito:

- Sem problema, senhora!Vou chamar um funcionário para arrumar.

- Er... Obrigada! Disse com um sorriso amarelo e a cara mais vermelha que um morango.

Como uma criminosa pega em fragrante delito sai em disparada. Só parei com o estrondo do baque com o carrinho a minha frente.... Um senhor de meia idade, calvo e de bochechas redondas berrou furioso:

- A senhora avançou a preferencial!

- Como assim? Indaguei tonta com aquela situação. Onde está o farol ou placa que diga que não foi o senhor que avançou a preferencial?

- Mulheres! Santo Cristo!Todo mundo sabe: quem vem no corredor mais largo e central entre as gôndolas tem preferência sobre quem vem pelos corredores mais estreitos!A senhora devia ter parado.

- Eu não sabia disso!Vai ver que perdi a aula de trânsito dentro de supermercado, quando fui tirar a carta pra dirigir carrinhos de mão... Retruquei rindo.

- Senhora, está sendo irônica e tentando diminuir sua culpa! Exaltou-se o homem, quando o fiscal que me seguia interveio. Perguntou se alguém tinha se machucado. Como ambos afirmamos que não, pediu-nos que continuássemos nossas compras.

Parti a feirinha para pegar frutas, verduras e legumes. Deixei meu carrinho estacionado fora, para evitar esbarrar em outros compradores. Escolhi, pesei, apus minhas compras arrumadinhas. Seguia em frente rumo ao caixa quando fui abordada por uma moça:

- Desculpe!A senhora está com meu carro...

- Hain?Seu carro? Interroguei com espanto. Aqui estão todas as minhas coisas, moça! Com as mãos fui mostrando alguns itens: o meu melão, os meus tomates, as minhas cenouras, o meu bebê... Ei! Eu não comprei bebê! Gritei assustada.

A moça rindo disse:

- Não!A senhora não comprou essa bebê, por que a cegonha me deu ela há três meses!

- Que vergonha!Mil perdões!Por favor, eu não sou sequestradora, não!

- Percebi!Basta à senhora devolver o carrinho que está tudo bem!

- Obrigada!Não sei como essas coisas acontecem comigo, moça!Respondi agradecida e balançando a cabeça.

- Eu sei disse o fiscal com o meu carro nas mãos. Aqui estão suas compras! Por isso que não desgrudo os olhos da senhora quando vem aqui... Acrescentou rindo.






Bertha Mendonça é escritora e poetisa.

Mantém o blog http://poemaecompanhia.blogspot.com/ e escreve para o Luso-poemas

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